HQ baiana tem heróis com elementos da cultura afro Notícia
Quinta, 01 de junho de 2023Experiente roteirista de HQ e séries de animação, o baiano Marcelo Lima investe nos quadrinhos infantis com Os Afrofuturistas, álbum escrito por ele e desenhado por Renato Barreto, coautor da obra. O lançamento, que será na tarde deste sábado, terá roda de conversa com o professor e escritor Marcos Cajé e a atriz, diretora e escritora Cássia Valle.
Conhecido por sempre abordar questões sociais e raciais em seus quadrinhos, como O Bicho que Chegou a Feira e Lucas da Vila de Sant’Anna da Feira, Marcelo introduz – e traduz – agora o conceito do afrofuturismo para as crianças, por meio da fantasia e super-heroísmo. Para quem não está familiarizado com o termo, o afrofuturismo – aqui de forma bem resumida – surgiu como uma estética que aplica conceitos de ficção científica e fantasia às culturas africanas. Exemplos: romances de Samuel Delany e Octavia Butler, as telas de Jean-Michel Basquiat, o bundalelê festivo extraterrestre dos músicos do coletivo Parliament-Funkadelic, o jazz cósmico de Sun Ra e até mesmo as HQs do super-herói Pantera Negra, da Marvel. Na HQ, Marcelo e Renato apresentam o que parece ser a origem de uma equipe de jovens super-heróis, formada por três irmãos: Tereza, Dandara e Cosme. Os três são crianças comuns de hoje em dia, totalmente conectadas com tecnologia e informação. Com as crianças de férias (e a esposa, que é astronauta, literalmente no espaço), o pai, Lucas, resolve envolvê-los nos saberes ancestrais da família, a fim de evitar que passem o dia todo conectados. Evidentemente, algo sai errado e Lucas é sequestrado por estranhas criaturas. De posse dos saberes ancestrais e com conhecimento de tecnologia e estratégias de cultura pop, o trio adquire super-poderes, com os quais vão lutar para resgatar Lucas. De fato, uma trama afrofuturista para crianças, como explica Marcelo: “Afrofuturismo fala sobre projeção de futuro em uma sociedade mais inclusiva, fala também sobre tecnologia, nerdice, sci-fi e fantasia afrocentradas etc. e, em especial, fala sobre uma ancestralidade que conecta presente, passado e futuro para afirmar que só olhando para trás se aprender como agir hoje para um futuro melhor”. “A conexão entre temporalidades está retratada no conflito entre gostar mais do lazer nerd (que se conecta com a mãe das crianças, que está fazendo descobertas incríveis no espaço) e aprender sobre ancestralidade (a missão dos pais com as crianças). Trazer o sci-fi e a fantasia partiu do mito de Sudika-Mbambi, mas tudo numa linguagem adequada para as crianças. Então, a melhor saída para explicar o afrofuturismo às crianças foi construindo uma obra afrofuturista que toca nos elementos que formam esse conceito... Daí a criança aprende se entretendo”, detalha Marcelo. Sudika-Mbambi Ao longo da HQ, diversas referências das culturas africanas vão surgindo, o que demandou uma boa pesquisa. “O mito do Sudika-Mbambi mesmo eu tive contato desde a leitura do livro O Herói com Rosto Africano: Mitos da África, de Clyde Ford, quando ainda nem sonhava com Os Afrofuturistas. Conforme fui pensando na HQ, consumi muita ficção afrofuturista e notava essa tendência de misturar africanidades para construir um universo ficcional singular. Me ative a isso e a cada novo elemento necessário no quadrinho atribuí uma referência que fizesse sentido. Foi um encaixe a partir da necessidade mesmo do material – e teve muita coisa que a gente cortou por ter soado excessivo ou porque queremos guardar para um próximo volume”, conta. Marcelo considera que, desde o fenômeno Pantera Negra (o filme de 2018 da Marvel) houve de fato bastante avanço no front da representatividade, mas que isso ainda não é uma vitória estabelecida. “Com certeza houve um avanço, e queremos muito mais. Hoje, é possível uma criança negra ler HQs e romances 100% protagonizados por pessoas negras – e isso é um baita avanço! Mas, ao mesmo tempo, ainda é um avanço tímido, pois ainda soa como novidade e não como algo estabelecido”, pondera. “Acredito que isso irá melhorar ainda mais pelos próximos anos se for mantido o ritmo de produção/formação de leitor que temos hoje. Contudo, é importante lembrar que representatividade não é a mesma coisa de inclusão e se ver nas obras não significa que estejamos na linha de frente enquanto público e autores. Mas isso vai acontecer”, crê. Para todas as crianças No sábado, crianças e adultos poderão conhecer (e adquirir) a HQ, além de saber mais em um bate-papo com Marcelo e convidados. “Vai ser um papo curto sobre o tema Afrofuturismo e infâncias, refletindo sobre a importância de se contar histórias que expandem os imaginários das crianças sobre o que é ser negro e encontrar seu lugar no mundo”, conta. Um detalhe muito importante para o autor: o evento é para crianças de todas as cores e credos. “É para todas as crianças, não somente crianças negras. Os Afrofuturistas são heróis de todo mundo e é importante que ideias progressistas como as representadas cheguem ao máximo de pessoas possível, pois beneficiam a todos nós”, conclui. Fonte: ATardehttp://atarde.com.brNotícias Mais lidas
- 1Anderson Silva vence Tito Ortiz com nocaute espetacular no 1° round
- 2Lacen detecta mais 10 casos da variante Delta na Bahia
- 3Gongogi, identificadas as vítimas mortas em grave acidente na BA-120
- 4Polícia prende suspeitos de matar pediatra dentro de clínica na Bahia
- 5Próximos de fusão, DEM e PSL assinam carta conjunta contra Bolsonaro
- 6Lafaiete Coutinho: Bebê de 3 meses morre por complicações da Covid-19
- 7Fios de operadoras de internet oferecem riso de acidente grave em Jequié
- 8Homem é baleado após discussão na zona rural de Brejões
- 9Jovem de 22 anos morre em confronto com a CIPE em Ipiaú
- 10Ladrões invadem aeroporto e levam três aviões, um deles do cantor Almir Sater